sábado, 6 de junho de 2009

texto sem 'que's

E um dia a girafa se viu reflectida nas águas de uma lagoa:

Maldita selecção natural por este pescoço comprido! Malditas folhas, ou malditas as árvores das folhas fora do alcance, altas de propósito para me fazerem também alta e esguia! Qual elegante qual quê?! Elegante é o elefante, por ser gorducho e fofo e saudável e convertível em peluche com certificação da União Europeia, “perfeitamente seguro”, ler-se-ia na embalagem. E uma girafa? Uma girafa só pode ser conotada com coisas desproporcionais como vassouras de piaçá nas mãos do Michael Jordan. Já alguma vez viram um peluche de girafa? Eu já, um dos grandes, típicos dessas feiras de festinha popularucha, a servir de tampão a uma hipopótama na fase de transição menopausica.

Pensou nos anos e maldisse-os por nunca se cansarem de passar por cima de tudo e de todos. Enfim se decidiu suicidar. Lançou-se à lagoa com esse propósito. A água não lhe chegava ao pescoço…

Ricardo Ávila

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